CIR.CUNS.TAN.CIAL
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CIR.CUNS.TAN.CIAL

CIR.CUNS.TAN.CIAL surge de uma necessidade íntima de criar. Depois de um mui breve interregno que soube a demasiado, e se é que esse interregno realmente existiu, a necessidade de voltar a libertar o riscador aprisionado à planície do estirador, leva-me a desbravar campos antigos e resgatar um daqueles projetos residuais que acabaram sendo consecutivamente adiados ou extinguidos. A zine, pelo seu caráter descomprometido foi sempre alvo do meu fascínio pela sua aparente simplicidade que na sua natureza mais crua se me aparentou.

Desenhar, recortar, colar, escrever, compilar, fotocopiar e distribuir... se nunca antes levei a bom termo uma destas investidas é porque tendencialmente o aprimorar do mais ínfimo detalhe era inevitável à minha pessoa e de certo modo essa característica opunha-se ao espírito e finalidade das diversas zines em questão.

Desconheço todavia, à data que despejo aqui estas palavras, se esta mesma zine acabará por ver a luz do dia. Outras zines em fases mais avançadas padeceram.

Se por uma lado me escasseia a ilusória disponibilidade do outrora, por outro lado a disciplina sobeja. Aparelhar disciplina e zine num mesmo bloco de texto pode soar bizarro ou mesmo exótico, no entanto é nessa disciplina que se confia o desconhecido sucesso da edição de autor. Se a disponibilidade e disciplina se extremam... a gana e a fúria são as mesmas. E nem mais, há bem breves momentos lia e relia Jorge de Sena mais propriamente a sua "carta ao jovem poeta" e passo a transcrever algumas das suas palavras:

 

"Não lhe estou dizendo que não publique os versos, uma vez que tenha ânimo e força para aguentar-se no equilíbrio instável entre a condição de prostituta e a condição de monstro. Na verdade, se a tentação que sente é irresistível de escrevê-los, se não procura a fama ou o proveito, se a dor de escrevê-los só se cura com a dor maior de escrever outros, se se sente vazio e triste quando eles estão escritos, e sofre de sentir-se vazio quando vai escrevê-los, e não sabe nunca o que vai escrever, e acha horrível tudo o que escreveu mas não é capaz de destruí-lo, então publique-os, publique-os sempre. E mande-os a toda a gente. Toda. Mas não peça opiniões ou conselhos a ninguém. Deixe que eles todos fiquem amarrados, para sempre, à culpa de o não terem lido, de o não terem sentido, de o não terem admirado."

 

Circunstanciar é isto... a edição com toda a fúria e gana e pre(n)ssão de sempre destes aqui que se remordem e que rilham a cremalheira e que dobram os agrafos com o sabugo das unhas para fazer nascer uma zine. O circunstanciar é o não pragmatizarmos e o nos permitirmos ser levados pelo momento ígneo. E que as circunstâncias do hoje conduzam a esferográfica no seu longo beijo com a folha de papel, e que as circunstâncias do amanhã fiquem no amanhã.

Ficam aqui os típicos e devidos agradecimentos a todos os cúmplices do costume e aos que apenas agora se nos juntaram. Sabem quem são e isso me basta.

 

- anónimo coroado, VIII 16 2021


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